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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Lady Susan - Carta 22 em Português

Lady Susan a Sra. Johnson
Churchill

Isto é intolerável minha querida amiga! Nunca me senti tão irritada antes, e devo desabafar escrevendo para você, sei que vai entrar em todos os meus sentimentos.
Adivinhe quem chegou aqui na terça-feira, senão James Martins? Imagine meu espanto e irritação - porque, como você bem sabe, eu nunca quis que ele fosse visto em Churchill. Que pena que você não tenha tido conhecimento prévio de suas intenções!
Não contente com a vinda, ele realmente se convidou para ficar aqui alguns dias. Ele poderia ter estragado tudo! Eu fiz o melhor possível, no entanto, e contei minha história com grande sucesso para a Sra. Vernon, que, seja qual for seus sentimentos reais, não disse nada em oposição a mim.
Fiz questão também, de fazer com que Frederica se comportasse civilizadamente com Sir James e dei-lhe a entender que estou absolutamente determinada em seu casamento com ele. Ela disse alguma coisa sobre sua desgraça, mas isso foi tudo.

Nos últimos dias, fiquei ainda mais determinada em meu objetivo, principalmente ao ver o rápido avanço de sua afeição por Reginald e por não estar totalmente segura de que tal afeto não possa vir a despertar um retorno.
Uma relação fundada apenas sobre a compaixão os torna desprezíveis aos meus olhos. E eu não senti garantia nenhuma de que esse não possa ser o desfecho. É verdade que Reginald não esfriou, de forma alguma, em relação a mim. Mas, ultimamente, ele tem mencionado Frederica espontaneamente e sem necessidade, e uma vez, disse algo em louvor a sua pessoa.
Ele era todo espanto com a chegada de meu visitante. A princípio observou sir James com uma atenção, que tive o prazer de ver misturado com ciúme, mas infelizmente foi impossível para mim atormentá-lo com isso, uma vez que sir James, embora extremamente galante comigo, logo deu a entender que seu coração foi dedicado a minha filha.
Eu não tive muita dificuldade em convencer de Courcy, quando estávamos sozinhos, de que eu estava perfeitamente justificada, considerando todas as coisas, em desejar seu casamento. E o assunto parecia resolvido comodamente.
Qualquer um deles poderia perceber que sir James não é nenhum Salomão. Mas eu proibi terminantemente Frederica de se queixar com Charles Vernon e sua esposa, e eles não tiveram, portanto, nenhuma pretensão de interferir. Embora minha filha impertinente, creio eu, aguardava uma única oportunidade para fazê-lo.
Tudo, então, estava transcorrendo calma e tranquilamente, e, embora eu contasse as horas para a permanência de sir James acabar, estava satisfeita com o estado das coisas.
Adivinhe então, o que senti com a súbita perturbação de todos os meus planos. E ainda mais, por parte da pessoa que eu menos tinha motivo para esperar.
Reginald chegou esta manhã em meus aposentos, com uma solenidade muito incomum em seu rosto, e depois de algum prefácio, informou-me em tantas palavras que desejava convencer-me da impropriedade e indelicadeza de permitir que sir James Martin se case com minha filha contra sua vontade. Fiquei surpresa!
Quando percebi que não estava brincando, calmamente pedi uma explicação. Quis saber o que o impeliu e quem o comissionou a me repreender. Ele então me disse, misturando em seu discurso alguns elogios insolentes e inoportunas expressões de ternura, que ouvi com perfeita indiferença, que minha filha o informou de algumas circunstâncias, referentes a si mesma, sir James e eu, que lhe haviam deixado em grande inquietação.
Em suma, descobri que ela tinha na verdade escrito uma carta para pedir sua interferência, e que, após o recebimento, ele tinha conversado com ela sobre o conteúdo da mesma, a fim de compreender as informações e assegurar-se de seu real desejo.
Não tenho dúvida de que a menina aproveitou a oportunidade para demonstrar seu amor por ele. Estou convencida disso pela maneira que ele falou dela.  Quanto bem fará um amor assim a ele! Eu sempre desprezarei um homem que pode contentar-se com um amor que nunca quis inspirar, nem solicitou a confição. Sempre detestarei a ambos.
Ele não pode ter verdadeira estima para comigo, caso contrário, não teria dado ouvidos a ela. E ela, com seu coração rebelde e indelicados sentimentos, lançou-se sob a proteção de um jovem com quem raramente havia trocado duas palavras antes disso! Estou igualmente confusa com seu descaramento e sua credulidade. E como ele ousa acreditar no que ela disse em meu desfavor? Não deveria ele, ter tido certeza de que eu tinha motivos incontestáveis para fazer o que fiz? Onde estava a sua confiança no meu bom senso e bondade, então? Onde está o ressentimento que o amor verdadeiro teria ditado contra a pessoa que me difamou – sendo essa pessoa uma pirralha, uma criança, sem talento ou educação, a quem ele havia sido sempre ensinado o desprezar?
Permaneci calma por um tempo, mas até o mais alto grau de paciência pode ser derrotado, e espero que depois tenha sido suficientemente sagaz. Ele se esforçou, se esforçou muito, para amolecer meu ressentimento, mas só uma mulher muito tola, após ser insultada com uma acusação, se deixa influenciar com elogios.
Finalmente ele me deixou, mostrando-se tão profundamente irritado como eu própria. Eu me mantive bastante calma, mas ele deu lugar a uma indignação mais violenta, o que me faz pensar que vai diminuir rápido ou até desaparecer para sempre, enquanto a minha vai permanecer fresca e implacável.
Ele agora está trancado em seu quarto, para onde o ouvi ir quando deixou o meu. “Quão desagradáveis devem ser suas reflexões!” poderia pensar. Mas, os sentimentos de algumas pessoas são incompreensíveis. Ainda não me acalmei o suficiente para ver Frederica.
Ela não haverá de esquecer tão cedo os acontecimentos deste dia! Ela irá perceber que despejou sua proposta de amor em vão, e que expôs-se para sempre ao desprezo de todos e ao ressentimento severo de sua mãe ferida.
Sua afetuosa
Susan Vernon

Autora: Jane Austen
Tradução de: Bruna Tavares


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1 comentários:

Giselle Trindade disse...

OLÁ
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